Apesar de alguns avanços quantitativos, a contribuição das mulheres no mercado de trabalho ainda é muito incipiente se comparado ao potencial qualitativo que elas oferecem graças à preparação que adquiririam ao longo do tempo e ao próprio perfil que possuem.

Num cenário de busca frenética por inovação, no qual as palavras de ordem giram em torno de  características como versatilidade, sensibilidade, empatia e credibilidade, certamente muitas empresas estão desperdiçando o potencial transformador oferecido por suas colaboradoras para conseguir efeitos até inferiores investindo seus escassos recursos financeiros em ferramentas como  Design Thinking, consultorias e uma série de dinâmicas modernas apontadas como fontes de toda a transformação almejada.

Muitos estudos já não deixam mais margens para dúvidas. As características femininas mudam o perfil de gestão das empresas. As corporações, no entanto, relutam em contratar mulheres para cargos importantes, se contentando em colocá-las em postos menos estratégicos.

A taxa de ocupação das mulheres cresceu no Brasil, mas já mostra sinais de estagnação. Entre 1960 e 1992, a participação do sexo feminino na ocupação formal saiu de apenas 16,5% para 43,4%. No entanto, nas últimas décadas, o percentual permaneceu muito perto disso e atualmente, encontra-se ao redor de 46%, segundo o IBGE.

Mesmo com um nível de escolaridade maior do que o dos homens, desde 1991, segundo o Núcleo de Pesquisa em Gênero e Economia (NPGE) da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), as mulheres têm rendimento inferior ao dos homens. Segundo os dados da Pnad Contínua do último trimestre de 2019, o ganho médio mensal masculino era de R$ 2.655,00 e o feminino de R$ 2.017,00.

No período, a pesquisa também mostra que elas têm mais dificuldade de conseguir emprego. Do total de desocupados, 53,8% eram mulheres.

Segundo o IBGE, o diferencial de rendimentos é ainda maior entre os que possuem, ao menos, ensino superior. Neste grupo, em 2016, o rendimento das mulheres equivalia a 63,4% dos homens. Interessante notar que, além de precisarem estar mais preparadas para obter cargos executivos, nos quais ganham menos, as mulheres também agregam valor às organizações ao apresentarem menos riscos do que homens quando ocupam posições de comando.

Seja por causa da maternidade ou da sensibilidade mais aguçada, executivas são menos afeitas a incorrerem no equívoco de buscarem resultados a qualquer custo, seja desumanizando pessoas ou praticando fraudes. Números explicitam isso. Pesquisa realizada pela HSD Consultoria em RH avaliou o perfil comportamental de 3.500 executivos de médias e grandes empresas entre 2014 e 2017. Verificou-se que um em cada três homens possui desvio de caráter.

Já entre mulheres, a proporção cai para uma a cada oito. Do total pesquisado, 27% dos participantes demonstram desvio de conduta que resultam em potenciais riscos para as empresas onde atuam.

Algumas iniciativas tentam reverter este quadro. Uma delas é o Projeto de Lei 7179/2017, que prevê cotas para mulheres nos conselhos de administração  nas empresas públicas e mistas. Mas este tipo de medida é controverso e até mesmo pouco efetivo, vide o que acontece na política. Apesar da existência de cota mínima (30%) de candidaturas de cada sexo em eleições proporcionais, estabelecida pela Lei 12.034, de 2017, as mulheres representam apenas 10,5% da Câmara na atual legislatura. Esta proporção (10,5%) é a mais baixa da América do Sul, enquanto a média mundial de deputadas é 23,6%.

O sistema de cotas não é necessário. Basta que as mulheres sejam vistas como realmente são e se reconheça o quanto podem contribuir para as organizações. É a visão dos empresários que deve mudar. Mais do que impor a presença feminina por cotas, é preciso reconhecer suas características na liderança. As mulheres são multitarefas por natureza, observadoras, têm facilidade para criar empatia, conseguem trazer seus valores para o processo decisório e buscam fazer o que é o certo, dentro de uma perspectiva de retidão, talvez até porque são chamadas o tempo todo para serem exemplo. Além disso, não se pode esquecer que os atributos femininos são complementares aos masculinos, o que resulta em maior efetividade nos negócios.

Todas essas características vão na direção do perfil considerado mais apto a produzir produtos e serviços com conceitos revolucionários. Então, certamente uma das primeiras atitudes de qualquer empresa que tem a inovação como meta deveria ser analisar o seu time feminino sem preconceito e com muita atenção às suas qualidades. Afinal, inovação é um substantivo feminino.

( Fonte: https://www.rhportal.com.br/artigos-rh/a-inovacao-deve-comecar-por-reconhecer-o-potencial-das-mulheres-no-mercado-de-trabalho/ )